28 de dezembro de 2012

Aos Perpetradores do Fim do Mundo

Sempre que há uma previsão de fim de mundo, afirma-se que o "mundo como o conhecemos" pode acabar. Isso significa a organização de sociedades, de Estados, de capitalismo, de confortos diários, pois já é aceito que o planeta, mesmo que se tornasse inabitável para os seres humanos, continuaria existindo como corpo celeste. Pois bem. Utilizando esse ponto de vista, minha vida sofreu um apocalipse maior do que eu poderia, em qualquer época anterior da minha vida, imaginar. O mundo como eu o conhecia acabou. Mas para afirmar isso, primeiro se faz necessário analisar e constituir que mundo exatamente era esse que não existe mais. Ai sim eu posso perceber claramente como ele mudou, e agradecer todos os responsáveis por isso.

Como um robô programado. Assim vive 
a maioria das trans pré-transição.
Vejamos. Minhas relações sociais eram falsas e totalmente desagradáveis. Por mais que eu amasse a companhia, tinha de fazer um esforço enorme para parecer razoavelmente agradada com a situação toda. Cumprimentava as pessoas de forma mecânica, deixava meus amigos sempre escolherem para onde íamos, usava a primeira roupa que achasse no armário. Com relação a isso, prendia sempre o cabelo ao sair de casa. Em retrospecto, é fácil dizer que isso era medo de expor meu lado feminino, de expor Mayra, a quem Marcelo devia proteger a todo custo. As roupas todas, na hora de comprar também, preguiça e desânimo. Eu estava sempre na sessão errada da loja, afinal. Deixava esse encargo nas mãos de parentes durante aniversário, festas e outros eventos que precisassem me presentear, ou nas de Jana... que escolhia sempre minhas roupas, vide minha falta de animo. Mulher, inclusive, que me fazia invejar toda atenção, o cuidado, a preocupação com os detalhes que investia ao se preparar para sair de casa: quem dera eu pudesse experimentar maquiagens, saias, blusinhas, tivesse problemas com aperto de sutiã e saltos. Era isso que pendulava em minha mente.

Nwylith, como ela era em uma mesa de
RPG que participei no ano passado.
Aliais, mesma mulher que eu depositava todas minhas expectativas. Queria que ela malhasse, malhasse e malhasse e usasse roupas que não tinham absolutamente qualquer relação com seu estilo. Bem verdade que essa minha imposição pela beleza levou-a ao mundo dos cosméticos, da moda, da pesquisa em blogs alheios por tendências e novidades. Passado esse ponto, no entanto, se tornou irreal e desnecessário, e graças a deus sua forte personalidade impediu quaisquer tipo de desvios ou exageros. E então existiam os jogos online. Ultima Online, principalmente, foi aonde durante tanto tempo eu vivi uma vida feminina. Mais de um ano, eu acho, logava todo santo dia, jogava algo entre 4 e 10 horas por dia. Primeiro tive um personagem elfo que me rendeu meu apelido na internet: Anomas Kamath. Logo comecei a jogar com meninas, elfas. Nwylith, principalmente, é um nome que guardo ainda. Nesse servidor era requisitada interpretação integral - você precisava inclusive de uma biografia razoavelmente bem escrita para ter sua conta aprovada. E la ia eu... a arqueira, de armadura de couro batido, construtora de arcos, carpinteira e lenhadora, vivendo nas vilas élficas e visitando as cidades humanas, e sendo a mulher sensível porém forte que hoje eu apresento na vida real às caras, ouvidos e bocas que me aparecem através dos dias.

Por último, na solidão. Em momentos de "Eu, Eu Mesma e Mayra", o espelho, como muitas de nós colocam, era meu pior inimigo. Com o tempo de academia, eu fui me tornando cada vez mais homem - o que parecia maravilhoso e horrendo ao mesmo tempo. O rosto, os ossos, as proporções... nada me satisfazia. Não importava o quão melhor eu ficasse, eu nunca me sentia... feliz. Livre. Por consequência, guardava uma energia ruim, um rancor, uma raiva, de fonte indistinguível mas de consequências transparentes: a cara amarrada, os poucos assuntos, a desmotivação de ser vista.

Bem verdade que me tornei uma mulher
um pouco... diferente. Mas ainda assim,
realizada. Feliz.
Meteoros, tsunamis, enchentes, queimadas, terremotos, furacão. Muita coisa mudou mas muita coisa ficou, e agora percebo quem, realmente, sou para mim e para o mundo. Não tenho mais asco de comprar roupas. Posso manter um pouco de preguiça por vezes, mas adquiri uma resiliência inesperada a ficar tirando e colocando peças diferentes, a andar, a carregar sacolas. Socializo fluidamente, falo facilmente, rio levemente. Desavergonhei das munhecas, dos falares finos, da linguagem do corpo. O que antes eu tinha medo que me traísse, agora eu tenho como propriedade indissociável pessoal. E no espelho... bom, caso olhar-se no espelho, reparar detalhes, fazer poses, gravar na mente a própria nova imagem um dia se torne crime, eu serei a primeira na fila da pena de morte. E vai ser desenvolvida alguma forma de reencarnação, para me condenarem duas vezes.


E muito pouco disso é realmente mérito meu, então distribuamos as medalhas a quem as merece. Não seguirei nenhuma ordem especifica, exceto a da vinda à mente.



À Jana, o premio Nobel de paciência por ter cuidado de mim depois da cirurgia facial, ter me ajudado a aprender como me vestir, como me mexer, como falar, como me maquiar; ao meu tio Ricardo, que me cedeu um apartamento para ficar hospedada após a cirurgia, assim como acontecerá novamente em janeiro para o implante de silicone; aos meus avós, por não terem apresentado quaisquer objeções à nenhuma parte do processo; ao meu amigo Leonardo, por eu ter enchido o saco por tantos anos chorando as mágoas por e-mails ou conversas; à minha amiga Bia pela oportunidade em sua empresa; à equipe da Facial Team por uma operação facial muito bem feita e um tratamento muito delicado e considerativo; à tantas que me doaram roupinhas logo após a transição; ao parente que pagou a FFS, apesar de até hoje não querer ter seu nome publicado, e; à tod@s que me aconselharam ou serviram de exemplo contando suas histórias, dietas hormonais e publicando suas fotos, além de todos os familiares e amigos que me aceitaram e que tem a capacidade de conviver com carinho e respeito, sem problemas.

Todas essas pessoas trabalharam para o fim do meu mundo... de reclusão, de medo, de frustração, insatisfação, vergonha, tristeza... o mundo, como eu o conhecia, acabou. E devo um muito obrigado à muita gente.

Tenho, aliais, um texto de final de ano para mostrar. Postei-o no Facebook, mas como recebi mais de 60 likes, penso que poderia ser útil eterniza-lo aqui.

"Conheci muita gente esse ano. Nasci, acordei como Mayra, me entreguei por inteiro para o mundo e, em troca, o mundo se abriu para mim. Adicionei zilhões de pessoas especiais à minha vida e algumas até ao meu coração, e se tornaria robótico e automático desejar feliz natal - e pior, em menos de uma semana, feliz ano ano - para cada um de vocês.

Desejo, de forma simples mas sincera, uma noite de reunião, paz e carinho, e um 2013 de renovações, mas daquelas importantes e amedrontadoras. Para aqueles que não consideram estar em forma, um ano de dieta controlada, de exercícios, de atividades, e muita beleza. Para aqueles que procuram a entrada no mercado formal de trabalho, um ano de muito estudo, muito aprendizado e oportunidade. Para aqueles com o coração doido e cansado, 12 meses de força, equilíbrio e superação. E para tantas e tantas meninas que eu tenho estado em contato, presas nos seus corpos masculinos, presas pelas expectativas idiotas de famílias covardes e de uma sociedade inescrupulosa, um ano de nascimento natural, daqueles que rompe as barreiras e faz rir e chorar sem medo, sem pensar duas vezes.

Vamos transformar esses últimos dias na festa preemptiva de um 2013 de muito azar. De azar para os homofóbicos, para os ignorante, para os violentos, para os machistas e todas as outras pragas que permeiam nossos círculos e, com sua presença, tentam somente denegri-los."

Simbora ser feliz =)

Então, a todos aqueles que me ajudaram de alguma forma na realização deste sonho tão grande, tão importante... sabendo ou não, querendo ou não, falando ou simplesmente calando seus medos e preconceitos... obrigada. Muito obrigada.

Beijos,
Mayra

27 comentários :

  1. Mayra,

    Já comentei umas vezes em seu blog, mas nem deve mais se lembrar de mim. Até gostaria de comentar mais e sinto esta vontade. Só que, ao mesmo tempo, não sei muito o que poderia comentar, falar, etc. Sou uma pessoa muito na minha, sabe.

    Ainda assim, queria deixar aqui registrado que entro no seu blog todos os dias para saber se há uma nova postagem sua.

    E quero que saiba que, mesmo sem eu conseguir comentar (em geral, um misto de preguiça e de desânimo, hoje quebrados com este comentário), as coisas que você escreve mexem com a minha pessoa.

    Noutras palavras, que fique registrado o meu reconhecimento pelas suas postagens. Algo muito importante para mim nos últimos meses. E que uma ausência de muitos comentários (nem sei se você espera lá muitos comentários, mas, enfim) não significa que ninguém leia o que você escreve.

    Adoro ler os seus textos. Seja por você narrar muita coisa que te acontece que acontece comigo também seja porque a sua vida é uma prova de que as coisas são possíveis.

    Enfim, em você eu me identifico muito e isto me trás muitas esperanças. Em me entender, no futuro, etc.

    Você é uma pessoa muito boa e te desejo todas as coisas boas que podem acontecer à uma pessoa. Um bom 2013 em diante.

    Beijinhos,

    Ana Carolina.

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    1. São comentários como os seus que me fazem mais ficar agradecida pelos que são enviados do que triste pelos que são omitidos.

      E sim, eu lembro de ti. E até sei que pessoas visitam o blog, pois o Google me fornece estatísticas sobre isso... mas eu realmente tenho que investir mais em engajar o público. Questionários, enquetes, talvez. Ou simplesmente achar uma forma de integrar botões de "like" e "share" do Facebook, "tweet", etc, nos posts. Isso é algo em que até hoje não investi com seriedade.

      Agradeço bastante o carinho, e fico feliz de poder ter essa influência. Espero, de todo coração, que este ano novo possa trazer mudanças positivas e libertações para você e tantas outras, como falei no post. Quero ter, no ano que vem, mil histórias de sucesso para compartilhar aqui, mil blogs para colocar links, mil sorrisos à mostrar e sentir.

      Que 2013 abençoe todas nos.

      Beijos,
      Mayra

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    2. E, em tempo, achei algo bem engraçado (e maneiro, por assim dizer) aquela coisa da sua VOZ no vídeo da entrevista na universidade. Como ela muda: fiquei abismada (e surpresa, não é).

      Mas o vídeo foi editado.

      Acho que seria legal ver a entrevista toda.

      Beijinhos,

      Ana Carolina.

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    3. Fiz um FACEBOOK e te adicionei, mas fiz hoje e está algo bem pobrinho.

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    4. Aliás, desculpe-me, mas poderia te adicionar lá como a minha amiga ?

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  2. Mayra, obrigada por ter sido uma voz constante nesse mundo. A gente escreve bastante sobre tudo isso, ok, mas o que mais importa é que temos pessoas perto (nos temos!) que compreendem o que passamos e o que esperamos. E que apoiam o simples fato de querermos a felicidade, simplesmente, ao conseguir olhar para o espelho e ver uma coisa que esteja em sincronia com o que tem lá dentro da imagem.

    Pode contar comigo. :)

    Beijos!
    Carolina

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    1. Temos mesmo. Acredito Fielmente que, emanando energias positivas o suficiente e bloqueando as negativas, conseguimos atrair o tipo certo de pessoas que podem nos apoiar, nos ouvir, ou simplesmente rir conosco. Você fez todos os três para mim.

      E você comigo, menina.

      Beijos, e um felicíssimo 2013... que tenho certeza, vai ser um suuuuuCEssoooo pra ti xD

      Beijinhos

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  3. May bom dia!
    Queria lhe perguntar uma coisa, sei que não tem nada haver com este post mas acho que fica mais facil para vc , quando eu não tomava hormonios era tudo simples e aconteciam coisas naturalmente comigo, agora que eu tomo meus hormonios percebi que minhas emoções estão afloradas e muito, estou chorando por qualquer coisa, me emocionando por qualquer coisa, eu pergunto, isto é normal? pergunto pois eu não era assim, estou me assustando comigo por estes efeitos, simplesmente é como se eu tivesse nascido de novo por não ser a mesma pessoa!

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    1. Sim, é comum que a pessoa se torne muito mais emotiva, delicada e sensível com a dieta hormonal, principalmente se além do estrógeno alto, a pessoa baixar seus níveis de testosterona aos femininos. Eu senti isso, e já li sobre muita gente que também sentiu. Fique tranquila :)

      Beijinhos

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    2. Sim amiga, então estou tranquila agora pois nunca fiquei tão emotiva como estou agora, minha testosterona esta abaixo de 20 ng/ml e meu estradiol esta 102 pg/ml, acho que deve ser por isto então!
      Obrigada!

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    3. Nossa, mesmo sem os hormônios, eu choro de vez em quando e pelos motivos mais idiotas.

      Quando fico nervosa, quando sou contrariada em algo de importância, quando estou triste e sozinha (sempre, risos), etc.

      Até esta parte de dizer que choro por estar sozinha (e solitária, etc) me faz ficar com a água nos olhos.

      Mas, em geral, procuro sempre segurar e não chorar.

      Sempre fui assim embora apenas tenha me apercebido disto há alguns meses atrás.

      É que estou me descobrindo como "trans" agora embora não tenha muita certeza disto ainda. Fora a vergonha que sinto de mim mesma em admitir isto.

      Verdade sim, sinto muita vergonha. Mas, pelo menos, já comecei a considerar esta hipótese que sequer me deixava cogitar até uns tempos atrás.

      Sei lá, aproveitei para desabafar.

      Beijinhos,

      Ana Carolina.

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    4. Ana, nunca sinta vergonha, nunca deixe seus sentimentos verdadeiros ficarem de lado, veja bem, me senti gay a minha vida praticamente toda, não deixei este sentimento sair antes para fora pois eu estava "aprisionada " em uma prisão que foi criada por minha familia, sofri muito com isso, com o tempo tiveram que aceitar minha suposta condição homossexual pq viram que não tinha jeito e nada mudaria meus sentimentos, foi muito dificil mesmo, nascer de uma familia totalmente alheia e preconceituosa, eu diria que nasci de novo, dos meus 36 para 37 anos, na internet vejo muita coisa escrita falando que com esta idade é muito dificil conseguir alguma coisa, MENTIRA, ja estou tomando hormonios tem aproximadamente 7 meses e estou muito contente com as mudanças, estou fazendo meu tratamento hormonal pelo SUS em SP, ja passo com medicos e tudo, eu queria comprar outros hormonios e fazer mais coisas, mas um farmaceutico amigo meu me disse, "vc passou 36 anos com testosterona, vc acha que vai mudar da noite para o dia?", fiquei triste depois disso mas vi que ele tinha razão, hoje estou amando cada mudança em meu corpo, meus seios, minha bunda e principalmente minha alegria, por isso lhe digo, NUNCA SINTA VERGONHA DE VC MESMA, vc ainda vai conseguir muita coisa boa na vida, igual eu , igual May e todas que lutamos por um futuro melhor e digno de viver!
      Desejo grande sorte a vc minha amiga, beijos!
      A todas, Feliz Ano Novo!

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    5. Pois é, comigo é um pouco diferente.

      Sempre me senti meio deslocada do resto do mundo, mas nunca atentei para este fato com mais afinco. Quando era criança, uma vez ou outra, cheguei a usar as roupas da minha mãe e da minha tia, mas sem relacionar isto com algo mais complexo. Realmente, era uma criança muito ingênua. Isto acontecia quando eu tinha uns 08 / 12 anos, mais ou menos. Na adolescência, usava umas roupas íntimas das namoradas e sempre escondida. Depois, esqueci destas coisas.

      Com uns 16 anos, descobri que a "travesti" existia. Entre aspas, hein. Só fui conhecer uma quando já tinha uns 20 anos. E de lá até aqui foi uma gradação. Primeiro, queria ser a ativa. Ativo, na verdade. Depois, meio que não querendo admitir, querendo ser os dois e terminando mais querendo ser a mulher da estória. E, no meio desta evolução, além de gostar de mulher e de trans, finalmente passei a admitir que gosto de homem também. Aliás, hoje vejo que gosto de homem e de mulher e de trans embora seja algo muito seletivo. Não ficaria com qualquer mulher e idem para com as trans e com os homens.

      No fundo no fundo, nem ligo muito para o sexo em si mesmo. Sinto mais falta da companhia duma pessoa, do carinho, etc. Há anos que não tenho nada afetivo com ninguém e isto é algo que me entristece muito e ainda mais sabendo que seria muito difícil ter algo com qualquer pessoa que me aceitasse por completo (por exemplo, gosto de mulher mas não me apetece fazer o papel do homem).

      Fico muito triste com isto. Me sinto muito solitária. Só vivo para o trabalho e, quando não trabalho, minha vida se resume à um tédio mortal em casa e a toa.

      Além das minhas preferências sexuais, ao longo do último ano, tenho refletido muito sobre a minha identidade de gênero e me vendo mais como uma mulher. Uma trans, não é.

      Tenho pêlos ao longo do corpo e barba na face além dos cabelos curtos. Cabelo grande me incomoda e a barba me incomoda também. Mas, da barba, só incomoda após uma semana crescendo. Os pêlos no corpo sempre os aparo na tesoura. Sem estarem grandes. não me incomodam.

      Só que, apesar disto, tenho pensado muito em como seria se eu fosse mulher. Olho as mulheres na rua e fico me imaginando como poderia ser igual à elas, no exterior.

      Só que está tudo muito confuso na minha cabeça ainda. Obviamente, tem a questão da família, mas acho que isto nem seja tão determinante embora não deixe de ser um obstáculo enorme.

      Eu mesma não me aceito e, querendo ou não, tenha muita vergonha de mim mesma. É algo involuntário, infelizmente. Ainda assim, estou melhorando. Antes, muita coisa que não admitia de mim mesma já passei a admitir. Já é um começo. Já é alguma coisa.

      Saiba duma coisa, uma coisa que admiro em muitas das trans é esta coragem que vocês possuem para a adaptação do corpo à mente. Algo que admiro muito, muito mesmo.

      Ah, já não sei muito o que falar e estou mais com os meus devaneios aqui.

      Obrigada pelas suas palavras à minha pessoa.

      Beijinhos e bom 2013 para ti e para as demais,

      Ana Carolina.

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    6. Ana, ja vi muitas historias de homens que mesmo com uma masculinidade muito grande, seguiram a vida se montando. Eu não sei ao certo de sua historia ou de sua vida, mas se vc tem esta vontade dentro de vc e se não encaixa um papel masculino junto a uma mulher, acredito que a unica saida seja trans mesmo, esta sua suposta "versatilidade" é algo muito normal em todas as pessoas, olha, eu ja me relacionei com alguns homens hetero e saiba que nenhum quer que eu faça a cirurgia sabia? Nenhum! E uma questão muito diferente isto, por isso digo "versatilidade". Uma vez um deles falou assim "para que vc vai operar? vc é um parque de diversões ambulante deste jeito", eu fiquei pensando, "nossa que coisa, quer dizer que sou um parque de diversões para os outros e para mim? sou o que?", as pessoas se esquessem que tambem tenho minhas vontades, meus desejos e assim por diante. Ana acredito, tudo que vc disse se resume a uma coisa só, eu disse versatilidade, mas no seu caso pelo que conta, vc não é versatil, vc se encaixa na condição Bissexual, vc gosta de homens e mulheres, independente do que vai fazer se ativa ou passiva, sei que rotulos não são bem vistos, mas acho que cabe bem agora neste situação, sinceramente amiga, eu jamais sairia com uma mulher, nunca nem beijei uma na boca rsrsrsrsrsrsrsrs, acho que minha historia é bem diferente da sua, fui gay afeminado durante muitos anos e por ñunca ter sentido nada com meu orgão genital, procurei ajuda e descobri que sou trans na realidade, com CID F64.0 e todas as coisas mais que vc deve imaginar, eu sei de uma coisa, não fique se remuendo e seja feliz, tenha coragem e siga em frente, veja nossa amiga May, quer exemplo melhor do que o dela? Se vc não colocar isto para fora como eu, May e outras, vc acabará ficando infeliz para o resto da vida. E não venha com este papo de familia, emprego e sociedade. Eu estou me lixando para minha familia, quem precisa deles? nenhum deles paga minhas contas mesmo, com relação a trabalho, sou funcionaria publica ha 18 anos, ta certo que tenho extabilidade, mas não estou nem ai para eles tambem no meu emprego e quanto a sociedade, o que importa é eu ser feliz, os outros se não gostarem que se mudem!
      Chega, eu quero é ser feliz isso sim!

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  4. Parabéns pelo seu novo mundo e pelas conquistas! E que venha 2013!

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  5. Sim, sim. Realmente, me montar não faz a minha. Não me sentiria nada bem vestida de mulher sendo um homem. Tenho que ser ou homem vestido de homem ou mulher vestida de mulher.

    Nem sei se direito se sou tão versátil assim. Por exemplo, nunca sequer fiquei com homem nenhum. E nem quero a menos que seja numa época pós-transição e mesmo assim não seria com qualquer homem. Versátil seria ou com mulher ou com trans, mas não com homem visto que aí seria a mulher sempre.

    Por outro lado, morro de medo disto tudo. Não quero ser o parque de diversões de ninguém. Só que, do jeito que estou, não consigo ter nada com ninguém. Ou não agrado ou não me agradam.

    Sim, sim. Digamos que sou uma bissexual. Eu gosto de mulher sim embora não me não consiga mais me encaixar no papel de homem com uma mulher.

    Difícil é conhecer alguém com quem se possa ter algo. Sinceramente, nunca gostei de transar por transar. Até porque acabo gostando da pessoa logo de cara. E ainda mais difícil é ter algo com alguém comigo sendo um homem não muito homem.

    Por outro lado, estas conclusões sobre o meu ser ainda são muito recentes e muito confusas.

    Quanto ao meu órgão genital, uma das coisas que me fez pensar muito nesta confusão toda que estou vivendo foi justamente que não tenho sentido muita coisa dele. Até sinto algo. Só que muito longe do que seria o ideal, digamos.

    Nunca me senti gay.

    Poxa, vou parar com este papo por aqui. Aqui é um local muito público por assim dizer e não queria ficar falando muito das minhas intimidades. Desculpe-me, está bem.

    Sim, a Mayra, não é.

    Achei a transição dela super rápida. Na velocidade da luz. Mas, analisando melhor, isto foi o ápice de algo que ela já sentia e, ao que me parece, vinha amadurecendo (ou, a atormentando) desde o início da adolescência. Comigo, para todos os efeitos na minha própria cabeça, não era mais do que um homem que gostava de mulher e de trans estando sempre no papel do homem.

    Olha, isto até que pode ser uma negação involuntária da minha cabecinha, mas acho que o meu principal problema nem são os outros (a família, a sociedade, etc) e sim eu mesma saber o que eu quero de verdade. Por enquanto, pelo menos.

    Uma indagação: por que você ainda usa o nome masculino ?

    Bem, vou ficando por aqui.

    Beijinhos,

    Ana Carolina.

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    1. Rsrsrsrsrsrs, bem, meu nome social é Alisson, acho que vc pense assim, Alisson não é nome de homem? Não, não mesmo, nos EUA por exemplo, Alisson é nome de mulher, aqui no Brasil que tem tantos homens com este nome, escolhi este nome por não ter "genero definido então", não mudei meu email ainda por preguiça no rabo rsrsrsrsrsrsrsrsrs.
      Beijos!

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  6. Alisson eu sei que é mulher nos EUA, mas é que está Allan ...

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    1. Uma coisa que eu percebi com o tempo, Ana, é que não ter a sensibilidade total do pênis pode ser algo psicológico e natural. Por isso agora, com minhas novas doses hormonais, maior sensibilidade pelo resto do corpo, maior interesse em ser passiva, eu entendo que o pênis é só mais uma ferramenta.. porque para muitas de nós, trans, ele não tem o papel fundamental que tem para um homem.

      Outra coisa em comum que temos é e negação pela "montagem". Como uma amiga disse, eu não gosto de soluções parciais. Para mim, tem que ser perfeito. Por isso a primeira vez que sai na rua com uma roupa feminina foi depois da cirurgia facial, depois de alguns meses de hormônio, sendo o que você chama de "mulher que se veste de mulher".

      Tu disse também que vive para o trabalho. Ja tentou jogar jogos virtuais? Encarnar personagens femininas foi algo que me permitiu explorar esse meu lado durante a vida masculina, e a perceber a vontade de encarna-las de modo real. No entanto, o passo definitivo foi a terapia psicológica. Foi em um consultório que eu tive certeza que deveria fazer isso e que seria mais feliz depois.

      Beijos,
      Mayra

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  7. Eu não cheguei a comentar, mas é isto mesmo. É uma questão psicológica sim. Nunca fui passiva na vida. Ainda, ainda. Ou seja, sempre fui ativa (ou com mulher ou com trans; poucas) e sempre no papel completo de homem. Como homem, sempre quis namorar uma trans. Nunca consegui. E, com o tempo, o que saiu disto foi a idéia cada vez mais forte de estar no lugar ou das mulheres ou das trans. Ter o corpo delas. Na medida em que fui internalizando esta idéia na minha cabeça fui percebendo que o prazer pelo pênis foi indo embora, aos poucos. Ao ponto de ter estado com uma trans (há uns meses atrás) e ter feito o meu papel de homem, mas sem conseguir chegar ao clímax e sem ter tido muito prazer. Foi algo muito mecânico da minha parte. E o que mais gostei foram os momentos de carinho sem ser a transa em si mesma.

    Fora isto, acho que já comentei aqui. Alguns sintomas, por assim dizer. E uns e outros destes meio que até parecidos com o seu Mayra, sabia. No final da infância e no início, usar as roupas das mulheres da família e escondida. Na adolescência e no início da idade adulta, usar uma calcinha, ás vezes. Em geral, voltado mais para o lado sexual. Hoje em dia, não faço mais isto. Só se o meu corpo fosse condizente com o traje pretendido. E os indícios ou parecidos com os seus ou já aventados aqui no blog em suas postagens são os seguintes: uma enorme tristeza que me persegue desde que entrei na adolescência (você não sorria, não é), não ter vontade para nada, não me divertir, me achar muito deslocada do mundo (estou começando a chorar ao escrever tais coisas, risos) e nunca conseguir me encaixar embora ninguém perceba esta minha dificuldade, etc.

    Sou uma profissional liberal, dia trabalho em casa dia trabalho (o meu quarto divide espaço com as minhas coisas do trabalho e, fazendo um enorme esforço, faço as coisas em casa também) no meu local de trabalho com os meus sócios. Tem dias que nem saio de casa e só fico ou dormindo ou passando os canais da televisão sem nada me agradar. Fico meio que esperando a vida passar. Fora ganhar dinheiro, não tenho objetivo nenhum na vida. É uma merda. Tenho uma vontade enorme de sair, de passear e de viajar, etc. Só que sozinha não me animo a pisar os pés na rua. Uma carência muito grande. De namoro, etc. Embora se tivesse mais amigos para me acompanhar já estaria valendo e muito. Só que tenho poucos amigos e alguns ou estão bem ocupados ou moral longe. E outros amigos eu mesma os afastei de mim por achar que eram pessoas ou do tipo duas caras ou que, quando precisava, nunca estavam comigo.

    E, dos meus amigos, alguns só ficaram sabendo que eu gosto das trans, além das mulheres. Agora isto, do meu ser trans, ninguém sabe. Não tenho com quem falar. Tem hora que parece que vou explodir. Só contei para uma trans que eu gostava e, indo na idéia dela, fui numa psicóloga e donde, após 02 sessões, falei de todos os meus problemas e que gostava de trans, mas não falei do meu ser trans. E justamente este o motivo que me levou lá. Não fui mais. E a trans que eu gostava sumiu do mapa embora ela, ultimamente, tenha estado mesmo muito ocupada. Acredito que ela não sumiu por isto, mas fiquei com esta pulga atrás da orelha.

    Tenho inúmeros problemas de ordem doméstica (em casa com os meus pais, etc) os quais em nada se relacionam com a minha identidade de gênero ou opção sexual. Aliás, nem sabem destas coisas. Como a psicóloga falou, parece que o mundo vai desabar nas minhas costas. E as pessoas em volta ficam me cobrando as coisas e me perturbando o porque não faço isto ou aquilo.

    (...)

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  8. (...)

    Com todo o respeito às CD's assim denominadas, não me agrada em nada a idéia de me montar para mim mesma ou para fazer sexo ou para parecer um homem vestido de mulher. Neste ponto, realmente, pensamos igualzinhas.

    Interessante que nunca usei o nome Ana Carolina antes de postar aqui. Usei uma vez ou outra num MSN idiota que tinha, mas que não o abro há seculos. Enfim, nem sei se deveria estar usando este nome feminino (se nascesse menina, este seria o meu nome) sem sequer ter uma certeza se sou transsexual ou não (na cabeça, na mente).

    Sim, a terapia psicológica. Parei de ir na psicóloga (só 02 vezes) em parte porque achei que não estava me ajudando (sou meia cabeça dura, admito) em parte por ser muito pão dura também. Embora a grana nem seja lá muito problema assim.

    Em tempo, os seus parentes são nota 10, hein. Duvido que alguém da minha família viesse a pagar qualquer cirurgia minha neste sentido. Talvez, a minha mãe. Só que ela é a única que não tem dinheiro por aqui. Risos, risos.

    Jogos virtuais, jogos virtuais.

    Nunca joguei nada além de damas na internet e isto há muitos anos atrás. Nunca pensei nisto. É um caso a se pensar. Mas, nem sei como isto funciona. Nunca fui boa nem em video-game. Está bem, está bem. Eu sei que sou muito rabugenta. De qualquer forma, é uma idéia. Afinal, isto seria o de menos em comparação com tantas idéias que habitam a minha cabecinha, não é.

    Obrigada pelo bate-papo. Pode não parecer, mas falar sobre estas coisas me faz um bem enorme. E me rende umas boas sessões de choro também. Por vezes, chorar também é bom.

    Beijinhos,

    Ana Carolina.

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    1. O meu caso também começou pelo lado sexual, quando usava as roupas da minha mãe durante a adolescência - o objetivo, a principio, era masturbação. E eu também nunca fui passiva antes da transição, só depois. Além disso, usei mesmo calcinhas por baixo da roupa masculina uma ou outra vez no final ou depois da época de colégio, e desenvolvi forte desejo sexual por transmulheres não-operadas, mas só depois do nascimento da Mayra. No entanto, eu era bem mais nova que você, imagino, então não tinha me dado a liberdade de explorar meu lado sexual. Por último, eu parei vários psicólogos logo no começo do tratamento por achar que não adiantavam de nada, até encontrar o meu. E já usei nomes femininos em fóruns e sites muito antes de pensar em qualquer cirurgia.

      Ana... coincidência demais pro meu gosto nossas histórias. Resolve isso. =P

      Beijos

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    2. Ana, temos historias muito diferentes e que todas elas nos levam a um lugar somente, a transexualidade! Eu comecei minha vida e aos meus 5 anos ja sabia o que eu queria dentro de mim, a diferença é que segui a homossexualidade para anos depois chegar a transexualidade. Realmente sabemos destas diferenças entre agente, se transhetero como é o meu caso, se translesbica como a May e assim por diante. O importante é vc se aceitar, nada mais importa alem disso, eu juro que gostaria de encontrar vc por ai e te mostrar que existe um horizonte muito lindo a nossa frente, queria ser sua amiga cara a cara para lhe mostrar que não a razão para ficar somente em casa e não viver, acho que uma boa conversa entre agente ou vc e May mudaria sua cabeça, vc parece uma pessoa tão triste com suas palavras, não fique assim amiga, seja feliz, pelo menos tente, com ctz vc não ira ficar chateada eu acho! Um grande beijo a voce e fique sabendo que onde vc esteja estarei torcendo por vc!

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    3. Mayra,

      Não temos tanta diferença de idade. Sou de 84 e vc é de 88: são 04 anos de diferença.

      Sempre tive um desejo muito pelas "trans-mulheres" não-operadas. Isto desde uns 16 anos embora só tenha vindo a cogitar o ser passiva após os meus 22 anos, mais ou menos. Só que sem admitir isto. Era reprimido por mim mesma. Após eu ter ficado com a trans na metade deste ano e da transa não ter dado muito certo para o meu lado que comecei a admitir algo que já vinha ao longo dos últimos 06 anos e, assim sendo, desisti de me passar por algo que sou (ou, que não consigo fazer).

      Mas, sério, ao contrário do que a colega pensa, quaisquer dos meus lados sexuais são inexplorados (ou, semi-explorados, que seja) já que nunca transei com ninguém duma forma livre, por assim dizer. Fazendo ou não fazendo o que realmente me apetecia. Incrível, hoje em dia, tenho até fugido de transar tamanho o meu medo com isto. Se bem que só transa mesmo que consigo descolar. Algo mais para o lado sentimental têm anos e anos que não sei o que é. E isto me entristece mais ainda.

      Fora um ou outro bate papo há seculos atrás, tem uns meses que fiz um ORKUT com o meu nome feminino e onde só consegui bater papo com uma lésbica bofinha e tenho uma outra trans que nunca consegui conversar muito.

      Pois é, ainda temos em comum aquela da roupa (o não ter a paciência para as comprar e delegar a tarefa aos outros) e outras coisas que não me vêm em mente agora.

      E tanta coisa em comum assim me assusta, juro. Estou abismada com estas coincidências e mais ainda para onde elas me apontam.

      Só que não sei o que irei fazer ainda.

      Eu tinha que ler mais e saber mais coisas. Ando tão sem paciência para qualquer coisa. Um exemplo é que a coisa de esconder o pênis e a coisa da voz (os 02 timbres de voz, como o seu e o da cantora da sua postagem de hoje) é algo que não sei como funciona (acredite, não sei mesmo) mas que a inação me impede de jogar isto no GOOGLE e descobrir, etc.

      Infelizmente, não sei se estou na fase de negação ainda, mas tenho muita vergonha de mim mesma e mesmo sendo uma pessoa bem esclarecida. Esta coisa de me descobrir e de me aceitar ainda é recente. Pelo menos, antes (lá pelos meus 20 / 24 anos), eu tinha vergonha de sair e de gostar das trans e, hoje em dia, isto acabou. A minha mãe já ate conversou com uma trans-mulher amiga minha pela cam uma vez.

      Então, muito obrigada pelo papo de hoje. Isto me fez muito bem. Ter com quem falar e ainda que o que eu fale sejam coisas óbvias.

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    4. Alisson,

      Realmente, nunca vi como ou homossexual ou gay (a mesma coisa, afinal) e, talvez, algo que te levou por um caminho diferente, inicialmente, tenha sido os seus jeitos mais delicados desde cedo. Já eu, desde sempre, nunca fui delicado em nada. Ao menos, exteriormente.

      Pois é, já eu sou uma trans-bi, então.

      Sim, sim. É legal a idéia de estar tendo amigas como eu (ou, mais ou menos, iguais à mim), sabia. E, como já disse nuns comentários mais acima, é justamente a falta de amigos que me desmotiva de fazer muitas coisas e independentemente desta minha situação de ser trans. Por baixo dos panos, eu ser trans possa só ser algo que venha a reforçar isto.

      Obrigada pelo papo: acho que, por enquanto, só isto que posso fazer. Agradecer à ti e à Mayra pelas suas palavras.

      Antes eu lia muito aqui, mas quase não comentava porque, ao mesmo tempo que tinha a vontade de comentar, estava tão desanimada que acabava deixando de comentar. Hoje, pelo visto, foi diferente.

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  9. Nossa que legal amiga, Trans-bi, realmente estamos evoluindo para algo melhor, tenho ctz disso, Transhetero, Translesbica e agora Trans-bi, super legal seu entendimento, parabéns!
    O mundo deveria ser assim, termos tais liberdades com a idade certa para fazermos nossas escolhas , no fundo seriamos muito mais felizes do que esta mecanica de vida imposta a nós!

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