21 de junho de 2013

Teatro de Sombras

- Mayra

Que me perdoem todxs xs leitorxs pela total desvirtuação do propósito do blog, mas o post de hoje é sobre o movimento político recente e atual no Brasil. Após acompanhar vociferadamente as notícias e relatos pela internet e pelo meu Facebook, que tem quase 800 pessoas de todos os tipos, incluindo figuras muito importantes na militância brasileira, afirmo que há uma grandíssima chance de termos um governo ditatorial até o fim da década.

Anarquismo e Nacionalismo, símbolo de tudo que havia na passeata.
Eles entendem dessas nuances ou só conhecem a máscara pelo filme "V"?
Deixe-me relatar a experiência pessoal. Me encontrei primeiro com um grupo de três pessoas, que depois viraram seis, no campus de direito da UFRJ, do lado do Campo de Santana. Um lugar péssimo para uma faculdade tão importante dada a decadência das redondezas, mas isso é irrelevante. A princípio, algo em torno de cem pessoas estavam reunidas em pequenos grupos de três a dez cada, sentados em cantos diferentes do chão, fazendo cartazes. Aquele momento já era uma pronúncia efetiva do maior problema das manifestação atuais: pluralidade de objetivos e interesses. A cena mais interessante foi quando eu retornei ao meu grupo, depois de ir ao banheiro, e presenciei um amigo declaradamente fascista, com o rosto pintado de verde e amarelo, segurando um cartaz com dizeres preto e vermelho para ajudar a menina que os fazia a secá-los: uma militante petista com a estrela vermelha grudada ao peito.

Na verdade, me retifico. Esse não é o maior problema. Essa cena pode ser tida como a demonstração mais pura da democracia, na verdade, considerando a pacificidade com a qual pessoas de crenças totalmente diferentes, diametralmente opostos, eu diria, interagem e se auxiliam. Fofinho. O problema é que essa oposição na rua não é tão paz e amor, principalmente em um momento exaltado de manifestação pública.

Quando saímos da faculdade, fomos - o grupo de seis, que virou cinco rapidamente - colando folhas A4 com dizeres sobre o que mais nos incomodava. Colamos em postes, pontos de ônibus, paredes. Críticas ao Marco Feliciano, à cura gay, às PECs amigueenhas felizes. Éramos um grupo aonde quatro membros eram poliamoristas e longe do estritamente heterossexual, então nos era pertinente. Vandalismo do amor, eu diria, tudo seria resolvido com uma boa faxina da cidade. E a mensagem teria sido passada para transeuntes até esse momento.

Certo, alcançamos a multidão há um quilômetro da Candelária - já que o resto do caminho até lá era só gente e não havia como chegar mais perto - e começamos a marcha em direção à prefeitura. Logo no comecinho rolou um foco de pancadaria nas pistas centrais da Presidente Vargas. Naquele momento o grupo de cinco virou três, e nós corremos de mãos dadas para outro canto. Depois nos reagrupamos e continuamos. Mais à frente, em alguns pontos, pequenas aglomerações de pitboyzinhos sem camisa, fortinhos, e com bandeira do Brasil enroladas cobrindo seus rostos em alguns pontos. Alguns minutos depois, um grupo de amigos dizendo que quem carregasse bandeiras partidárias estavam sendo agredidos - verbal e fisicamente. Adivinha por quem? Carros de som, uma papagaiada sem mais tamanho, guiando aquela galera como um cachorro e um homem à cavalo guiam o gado, com palavras de ordem ao estilo "contra a corrupção" e "abaixo Dilma", completamente genéricas e vazias, facilmente manipuláveis. Aí eu recebo uma ligação de minha namorada: "tá rolando pancadaria na prefeitura, volta". Certo. Até aquele momento, eu pensava fielmente que se tivesse uma máscara de gás e um óculos protetor, eu mesma me enfiava na pancadaria. Não sou à favor da PM, muito menos do protesto pacífico. Ou não era. Não sei. Enfim, voltamos pro campus de direito.

Aí começou a merda maior. Pela TV, Cidade do Samba em chamas. Prefeitura depredada. Postes sendo derrubados. Souza Aguiar invadido por PMs. Veja bem, um hospital, com pessoas doentes. IFCS cercado. Aliás, o site do Globo divulgava até que o nosso próprio campus estava cercado enquanto não acontecia absolutamente nada e não tinha um PM ali, que só chegaram uma meia hora depois. Faz você questionar tudo, desde a veracidade das informações anteriores até a compactuação da imprensa com a polícia militar. Enfim, lá ficamos. As estações do Metrô estavam fechadas, até onde sabíamos. Ônibus visivelmente não passavam, nem táxis. Cogitávamos dormir no campus. Minha menina catou um táxi em casa e foi lá resgatar eu e o grupo. Na hora que deixávamos o local, a polícia realmente chegou. Não, perdão, uma força militar. Uma van, dois carros e duas motos lotados de homens do Choque, pela menos uma dúzia. Em uma faculdade pacífica, onde absolutamente nada acontecia. Ok.

Chegando perto de casa, um 455 parado pela PM na frente do Maracanã, com policiais batendo seus cassetetes contra a lataria e mandando as pessoas descerem. De direita, isso? Imagina. Viagem. Besteira. Enfim, chegamos, e ficamos na portaria até meus amigos conseguissem que um outro rapaz viesse buscá-los para levá-los em casa. Moro do lado do Colégio Militar, e vi mais de 60 homens do exército, e mais de 20 cavalos, saindo em caminhões grandes do colégio em direção a sabe-deus-o-quê. Enfim.

Os relatos pela internet e pela mídia são confusos e vazios. Em alguns lugares, fotos de PMs e bombeiros marchando junto do povo. Em outro, descendo o cacete. Um relato de câmera quebradas e fotos apagadas, em outro lugar, fotos e vídeos mostrando atividades da polícia que simplesmente não há como saber se foram ações ou reações, enquanto os textos que as acompanham falam de brutalidades sem limites, inflamando a população contra eles. Eu não sei de mais nada.

Tenho duas teorias. A do "sem-querer" e a do "de propósito". A do sem-querer é que uma população esmagada acumulou abusos e se revoltou em massa contra um grupo de políticos que não sabe bem o limite do abuso de poder antes de inflamar a população. No meio, tem uma PM despreparada, acostumada muito mais com situações de combate letal do que de manutenção da paz, em um Estado onde é costumeiro que as leis sejam dobradas ao limite da tolerância por aqueles que têm poder, seja físico ou político, e situações sendo noticiadas por uma mídia mais preocupada com pisar-em-ovos e manter seu status de preponderância do que de relatar os fatos de forma neutra, que antes criminalizava o movimento e depois passou a apoiá-lo, quando a violência policial atingiu seus próprios membros. Ou seja, um caldeirão de forças e grupos que, por acaso, está tomando as decisões todas erradas que desestabilizam a situação atual sem muito propósito ou objetivo. A do "de propósito" é um plano arquitetado para o golpe militar. Esvaziar um movimento que possuía objetivos e direcioná-lo contra partidos políticos e contra o governo atual é um primeiro passo bastante simples para criar uma massa disposta a lutar, mas sem um objetivo, que seria dado facilmente depois por um grupo militarizado que derrubaria a Dilma - como na proposta surreal de impeachment que circula atualmente pelas redes sociais. A mídia propositalmente apoia o movimento atual para que ele cresça e se torne mais forte, para que seja ferramenta mais útil no momento do golpe.

Sinceramente, eu estou fora. Eu não sou anarquista nem fascista, e o objetivo de cada um desses grupos é o único possível desfecho para a manutenção desse movimento. O Passe Livre paulista, que iniciou os protestos, já se retirou. A passagem caiu, no único movimento inteligente do nosso corpo político, e desestabilizou o grupo que não possuía outros objetivos. Outros interesses se infiltraram, e não sobrou nada de luta sincera. Pelo quê eu andei lá ontem? Pra dizer que eu estou insatisfeita? Claro que os políticos sabem que nós estamos insatisfeitxs, quem abusa de poder não é burro, é escroto. Mostrar insatisfação não muda nada. Há de se fazer algo diretamente a respeito. E eu não vejo nada desse nível atualmente.

- Mayra

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