26 de junho de 2013

Fogos de Artifício

- Mayra

Uma conhecida me enviou um pequeno texto falando sobre suas sensações eufóricas, agora quando decidiu dar os primeiros passos concretos na sua transição. Deixarem o relato aqui para passar, com a maior precisão possível, a imagem do coração de uma menina nesse estágio.

Depois de um ano e meio da minha própria, já sou velha carcomida no assunto, então serve também para refrescar o portfólio de contos, non?

Nas palavras dela mesma, abaixo:
Olá May!

Tudo bem!
Quero informá-la que dei os primeiros passinhos para a minha transição!

Ainda tem muito chão! Mas estou confiante!

Falei com a Dra. Desirèe (nome sugestivo não? rs...), que foi muito carinhosa e atenciosa e me deu uma consulta grátis de avaliação e me orientou muito bem. Adorei! rs... 
Pelo que pesquisei e conversei com ela percebo que terei que gastar muita grana caminhando o processo pelo serviço particular! Acho um ó eu ter tendências anarquistas e comunistas que evitaram o meu tesão por grana, mas pra ser sincera só tava procurando fuga do meu corpo atual e isso fica mais claro a cada passo adiante que dou, se bem que poderei manter ideais em que acredito. Só deveria ter mensurado melhor pra poder ter mais grana hoje. rs... 
O fato é que enquanto a grana não surge a Dra. me sugeriu o usar o dindin do poder público, "já que pagamos tantos impostos", ela tocou meu coração com essa frase. 
Ela me deu um e-mail que seria batata pra agilizar a 1ª consulta (triagem), na AMTIGOS do HC/USP (eu já tinha ligado e aguardava resposta p/ essa marcação de consulta com a mesma pessoa deste e-mail). Mandei um e-mail de manhã no dia 12/06 e a tarde a pessoa, muito gentil disse que eu podia ir às 13h do dia 22/07/2013. Já sei que pode demorar, mas enquanto a grana ñ brota em árvore, rs..., vou me virando do jeito que dá, só não quero mais parar de corrigir este atraso. 
Tenho umas idéias pra levantar grana e uma carta na manga que poderia até funcionar, mas tá meio como lance de sorte (seriam composições de sons que nunca tive motivação pra levar adiante, mesmo c/ o incentivo da mulher e dos mais chegados). É aí que analiso uma possível deprê, já que sempre me empolgava e perdia essa empolgação rapidamente devido a condição mala de estar no gênero errado.
Lá no HC vou ter que tirar o brinquedinho, se bem que nunca gostei dele mesmo, rs..., e cá entre nós, prefiro usar consolo c/ a minha gata, sei lá, mas sempre achei mais gostoso! (Porém a gata, ainda, não - esperança ñ morre, rs..) Puts! Sorry! Tô me sentindo a íntima de vocè! Mas desculpe, pois isso é devido a gratidão e a confiança somados à importância da divulgação de sua transformação em ter me ajudado muito, mesmo! Já falei, mas falo de novo e de novo e sempre que sempre serei grata mesmo! (com licença da redundância, rs...) 
Tô me revelando aos poucos e ainda faltam algumas pessoas importantes pra eu avisar e se não fosse a mulher e amigos me acalmando, quase mudo meu status no face de masculino para feminino na semana passada (doida pra fazer logo isso). Tô tendo momentos de piti às vezes! Sempre tive, mas agora tá constante, pois sei que podia ter mudado antes, algo que ficava meio na dúvida até ano passado. rs...
São só alguns parâmetros, pra quem sabe, se vocè quiser ou precisar usar como exemplo p/ outras amigas. Poder usar! Ok? 
Vocè tem o meu aval e que dane-se o resto do mundo. Ok? Nem todo mundo, vai! Só o povo desatualizado e preconceituoso que atrasam as nossas vidas. rs... 
Ah! Agora o nome tem que ser Thainá (conde nome = Tina) Naveya dos Santos Andrade. A filhinha mais velha ajudou a escolher o 1º e descobri este mês que o 2º (inicialmente o nome da minha banda de rock que está de molho a um tempão e sei lá se volta, rs...), que uso desde os 18 anos, é nome de menina em outros países e até de uma menina compositora, que na minha viagem fantasiosa achei parecida comigo. rs... Este 2º nome já tem muita gente que me chama por ele, por isso prefiro ficar c/ ele e Thainá veio a calhar t/b/ por ser indígena e sempre que pude defendia causas indígenas. T/b/ tem um lance com nativos sobre valores interessantes, em que na maioria seguem um modelo matriarcal (+ igualitário) e não patriarcal (+ totalitário). 
Não rolou de falar c/ o chefe ainda, mas é por causa de um montão de tarefas que ele tá na mente e mais um livro que ele tá produzindo com um amigo que ñ demora um mês e aí tudo se normaliza. T/b/ tô pensando em passar na 1ª consulta pra falar c/ ele. Pelo menos acho que ele ñ vai agir c/ preconceito e terá respeito, mas pode não me querer no emprego. Aí, mulher! Volto p/ o telemarketing por um tempo! Fazê o que né? rs... 
Obrigada a você, a Leina e a todas as trans que tão me servindo de exemplo. Isso é muito bom!

Ps.: Tô mais atarefada depois que comecei a me resolver! Acho que deve ser por quê finalmente eu acordei pra vida. rs... 
Até!
Bjks!
Para quem quiser trocar ideias com a autora do relato, use o facebook.

Comentários sobre a história, vindos de um ponto de vista temporalmente mais avançado, tenho dois. Primeiro: pensem bem, quando da escolha do nome, que você terá que listá-lo trocentas vezes em pedidos de entrega em casa, ao marcar consultas médicas e ao falar com desconhecidos. Isso pode parecer trivial para nossos nomes de batismo, mas temos uma enorme tendência a inventar firula quando nós mesmas escolhemos um. Eu, por exemplo, provavelmente não teria posto um "y" no meu se soubesse o trabalho que ia dar mais tarde todo santo dia.

Segundo, ninguém "precisa" fazer a SRS, mesmo que tenha o acompanhamento do SUS. Chega lá na frente e para, se quiser, não sei, passa a comprar os hormônios por fora. Só faça a cirurgia se for do seu desejo, e depois de refletir muito sobre o assunto e conversar com muita gente sobre. Melhor gastar 200, 300 reais por mês com hormônios obtidos de forma privada do que se arrepender de um procedimento dessa magnitude.

No mais, é isso.

Beijos,
Mayra

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