Atlanta é uma enorme cidadezinha. O que eu quero dizer com isso é que vivendo aqui é comum ter, diversas vezes, a sensação de viver em uma comunidade íntima com os outros 500 mil habitantes, quando na verdade ela tem uma dezena de shoppings centers e cinemas, centenas de restaurantes, uma área metropolitana significativa com dezenas de cidades satélite muito próximas, um enorme parque de diversões, o maior aquário do mundo e o centro de pesquisas médicas mais influente do planeta. No entanto, Atlanta ainda é uma cidade extremamente arborizada, linda, bem preservada, com um trânsito tranquilo aonde a velocidade máxima na qual as pessoas percorrem na maioria das áreas urbanas é de 40 a 60 quilômetros por hora, aonde se para o carro quando o pedestre pisa na faixa, aonde cada atendente em cada loja pergunta como você está e espera você perguntar o mesmo de volta antes de começar qualquer negociação. Para mostrar pelo menos a estética do local, coloco abaixo um vídeo do caminho feito da nossa casa ao trabalho de Gaby, mas sinceramente, o YouTube é um escroto e tira toda a qualidade da imagem. O arquivo original está aqui.
Foto da mãe com o carro já que ela fez questão de fazer essa macacada XD |
O aquário que eu mencionei antes, Aquário da Georgia, também rendeu um dia inteiro, das 10 da manhã às 5 e tanto da tarde. O passeio básico disponibiliza a ti seis áreas de exposição, desde aquários de medusas, dragões-marinhos e caranguejos asiáticos até tubarões-baleia, baleias Beluga e uma apresentação, de mais ou menos quarenta minutos, de golfinhos e seus treinadores, a coisa mais linda do mundo. Prometo que esse último te faz chorar sem esforço nenhum. Abaixo eu juntei alguns clipes filmados durante nosso passeio para apresentar, como possível, o lugar para vocês.
Para o fim do ano, minha mãe chegou dia 24 de dezembro. A árvore de Natal já estava montada, mas passamos o Natal e o Reveillon junto, apresentamos a ela nosso restaurante favorito na cidade, o Cheesecake Factory, passeamos pelo Jardim Botânico local que estava com uma decoração linda de luzes na noite e fomos ver o “Peach Drop”, a queima de fogos de Atlanta, na virada do ano. Essa última parte eu confesso ter sido uma experiência para uma vez só, esse negócio de sair de madrugada para ver puff puff colorido no céu não é nem comigo nem com Gaby, uma sessão de jogos, filmes e sexo tá bom pra gente. Ano passado nos demos "feliz ano novo" já na cama no meio do sono, foi fantástico. De qualquer forma, tem um álbum de fotos sobre a estadia dela - também.
Essa mudança representou muita coisa boa pra mim. Eu detestava o Rio de Janeiro, sempre me senti assim. Os serviços nos restaurantes são ruins, os atendentes de lojas são grossos, o comportamento masculino é bárbaro e vergonhoso - desde às 15 cantadas por quilômetro até a bizarrice que é a torcida do flamengo ao redor do Maracanã - a população é porca, a polícia é agressiva, as filas são gigantescas, o trânsito é estressante, os servidores públicos são preguiçosos e incompetentes, os assaltos são frequentes e, como em todo o Brasil, qualquer coisa importada custa os olhos da cara e do cú. Sim, com acento, para dar ênfase. Além disso, morar aqui é minha primeira experiência de independência e, apesar de todos os tropeços com as finanças e com a burocracia da vida adulta, nada tira o colorido do prazer que é morar em um lugar no qual, da porta para dentro, quem manda somos nós e ponto final. Podem me acusar de síndrome de vira-lata o quanto quiserem, mas nossas encomendas aqui são entregues e deixadas em um cômodo público ao lado da portaria ao qual todos os mais de 140 apartamentos têm acesso irrestrito. Sabe quando eu ia ver a cor dos meus pacotes se isso fosse feito no Rio? Pft.
Enfim, a vida continua. Eu faço essas publicações para deixar bem clara a ideia de que ser trans de forma nenhuma te impede de crescer e ser feliz na vida. Sim, eu sou branca, não, não me expulsaram de casa, todas essas coisas são verdades e ajudam com tudo na vida, sendo trans ou cis, mas até hoje eu conheço trans com dinheiro e formação universitária, empresas e casas próprias, que acham impossível realizar a transição mesmo tendo a benção dos deuses do seu lado por achar que tudo é 10 vezes mais pesado do que é na verdade e que, por isso, “não dá pra fazer isso”. DÁÁÁÁ sim. Suas quengas.
Nenhum comentário :
Postar um comentário