19 de setembro de 2013

Psicodelia

- Mayra

Hoje tive um sonho tão louco que me dei ao trabalho de parar minha noite no meio, coisa que abomino fazer, para pegar o celular e escrever a história. Contarei-o, mas antes, preciso apresentar dois personagens para que a história faça sentido. Aqueles que os conheçam podem pular diretamente para o quarto parágrafo.

O primeiro é o Mega Man X. Ele protagonizou uma série de jogos da Nintendo, Começando no Super Nintendo e terminando no PlayStation 2. Eu joguei até o X5, e adorava assistir o desenho na TV, fez parte fundamental da minha infância. Ele é uma forma de inteligência artificial, um robô humanoide, o primeiro capaz de pensar e sentir por si próprio. O cientista que o deu vida, sabendo que o mundo ainda não estava pronto para ele, o selou em uma cápsula que foi descoberta décadas mais tarde, no século 23. A partir de seu design é criada uma geração inteira de robôs conhecidos como Reploids, que passam a fazer parte fundamental da sociedade humana. Alguns deles começam a mudar sua personalidade para uma agressiva e antagonista da raça humana, evento chamado de "virar Maverick", e X é escolhido, junto com outro robô de sua geração, o Zero, para lutar contra esses outros que se tornaram violentos. Sua forma de combate principal é seu pulso direito, que funciona como uma arma capaz de diferentes projéteis e efeitos. Veja à direita.

O segundo personagem é o Kadabra, Pokémon. Sim, tem Pokemons na história. Cara, FOI UM SONHO, não me bate. Enfim. O Kadabra é um Pokemon com poderes psíquicos, tem em torno de 1.3 metros de altura e pesa na casa dos 50, 60 kilos. Suas principais habilidades são telepatia, teleporte e telequinesia. O desenho ao lado é uma reimaginação realística do mesmo, feita por um artista no site Deviant Art. Agora, à história.



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Eu era o Mega Man X e estava num grupo com mais de dez indivíduos Reploids, em alguma missão. Ao contrário do universo dos jogos, onde a humanidade se restringe à Terra, o universo em que eu vivia era um futuro distante, uma galáxia inteira colonizada, não só a terra. Ao mesmo tempo, um grupo de Kadabras se reunia com algum tipo de plano maléfico, uns 7 deles. Aparentemente, os Pokemons do sonho se restringiam a um ou a uns poucos desses planetas colonizados, mas com os poderes de teleporte dos 7 reunidos, eles conseguiram se teleportar para um outro mundo. Aparentemente, foram buscar um outro Pokemon que fazia parte de algum tipo de plano maléfico. Os 8 agora reunidos conseguiram se teleportaram mais uma vez, e a cena voltou à mim.

No lugar onde eu estava, o grupo de Pokemons apareceu em posse de uma enorme nave e abduziram eu e meu grupo. Já no espaço, quando tentaram nos fazer entrar na nave, ao invés de viajarmos no deck - sim, temos essa habilidade, somos robôs, lembra? - eu fiz força contra o raio magnético usado e fui parar numa sala separada daquela para onde os outros foram. Querendo já se livrar de mim pela minha resistência, se comunicaram por uma tela que havia na sala. A ameaça era simples, mas eficiente: ou eu me jogava no espaço por uma comporta próxima, localização dada, ou eles hackeariam brinquedos em parques de diversão no planeta destino a cada tantas horas, matando pessoas em acidentes. Parecia que estávamos indo para a Terra.

Tentei argumentar que foi só uma brincadeira, me desculpar. Estávamos longe de tudo, ninguém nunca ia me encontrar no espaço, eu sabia. A resposta era sempre negativa. Eles estavam ficando sem paciência, parecia que era desgastante para eles utilizar a nave para se comunicar comigo. "I'm no typer. Two letters answer: no". Ou seja: "Não sou acostumado a digitar. Resposta de três letras: não." Minha última tentativa foi uma espécie de oferta. No caminho que fiz antes de entrar na sala, reparei que muito da tecnologia usada na construção da nave era similar à construção do meu corpo robótico, e que com apenas pequenos ajustes eu poderia trabalhar para eles. A tela na minha frente piscou com uma última mensagem. "Hiring is reason". Ou "Contratação pode ser um possível motivo (de soltura)". O texto foi substituído por um gráfico que parecia analisar o tempo da minha curva de aprendizado para tal. Apaguei.

Acordei com o impacto com o solo em um planeta estranho e vendo uma pequena nave de desembarque - desses que leva meia dúzia de pessoas de uma nave grande à superfície de um planeta sem a maior ter que aterrizar - ganhando altura e se distanciando de mim. Devia ter acabado de me deixar ali. Ao me levantar e olhar para meu próprio corpo, os mecanismos e a armadura azul tinha sido substituídos por uma cobertura negra com acessórios prateados. Respirei fundo e olhei em volta. O lugar parecia ser a periferia de uma cidade média, com enormes prédios e muitas luzes à distância, mas ruas vazias de casas grandes ao meu redor.

Era o começo de uma noite, e um casal negro, heterossexual, de meia idade, passeava na calçada próxima ao asfalto aonde tinha acabado de aterrizar. "Gente, que planeta é esse?" Eles estavam em um papo tranquilo, na felicidade calma de um amor de muitos anos, e interromperam seu caminhar para me responder. "T-V-A, filho. Você está bem?" A pergunta veio cheia de sinceridade e preocupação da moça, acompanhada de um sorriso doce de quem ajuda um jovem bêbado acordando no meio da rua em um final de semana, depois da noitada. "Sim", respondi. "Só no foi exatamente minha escolha vir parar aqui".

*****

Resumindo: meu cérebro sozinho criou um universo inteiro, onde a sociedade humana colonizou o espaço e vive tranquila ao lado de uma raça de inteligência artificial, e aonde alguns desses planetas abrigam também outras raças biológicas, sencientes ou não, de criaturas de diferentes níveis de evolução social e psicológica, com diferentes habilidades. Quantas histórias podem ser inventadas em um cenário como esse? Não satisfeito, ele me cedeu o esboço do começo de uma história, me deu um personagem, um grupo amigo, vilões, e um plano contra o qual lutar! Cara, aí depois eu crio um post como o último, que muita gente elogiou, e sinto que o mérito não é completamente meu, e as pessoas para as quais eu confesso isso não entendem. Porra, caiu no colo, sério!

Isso me lembra muito minha adolescência. Eu conseguia ficar horas e horas sonhando acordado, deitado no sofá da sala me imaginando no corpo de outras pessoas e serem, em outros universos, vivendo aventuras. O Mega Man era um deles. Me imaginando em sua pele, já explodi muita coisa e salvei muita gente. Às vezes eu integrava isso ao universo real, e imaginava meu corpo real, um dia, revelando em uma poça de sangue e acesso de dores e gritos - como um parto - que sob a aparência mundana de pele e suor havia, na verdade, um corpo robótico camuflado, esperando a hora certa de se revelar. Eu sempre me imaginei mudando meu corpo, seja para mulher, seja para tantos outros serem fictícios. Isso é atrelado a um déficit de atenção enorme, é verdade. Me distraio muito facilmente, principalmente ao estudar ou trabalhar em um assunto que não é nada do meu interesse. Mas não me renderia ao Rivotril. Isso acalmaria demais as vozes criadoras na minha mente, e essa já é uma parte intrínseca e valorizada demais em mim.

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