1 de março de 2013

Aviso aos Navegantes

Segunda-Feira, Shopping Rio Sul, aproximadamente 16:00. Passeio com a namorada após assistir ao especialmente decepcionante Die Hard 5. Chego ao térreo, um senhor aparentando a proximidade dos 60 anos me aborda afirmando possuir uma agência de modelagem na torre de negócios do próprio shopping e pedindo meu telefone para entrar em contato, perguntando se já fiz algum trabalho na área e me dizendo, ao receber a resposta negativa, que eu poderia ingressar no ramo. Ok. Suspeito. Não se pede o telefone de ninguém em nenhuma situação profissional. O recomendável é apresentar o seu contato e aguardar uma réplica da pessoa. O cartão foi esse:




Deixo passar alguns dias enquanto reflito sobre a situação. Quinta feira, dia 28 de fevereiro, ligo. Atende um rapaz sem enunciar qualquer tipo de introdução profissional, do tipo "Supermercados Extra, boa tarde?". "Alo?" é o que vem do outro lado da linha. Respondo, peço para falar com Evandro, recebo a resposta que ele não está. O rapaz sugere, duas vezes, que eu deixe meu contato. Deixo o celular e o nome, digo que ele me contactou no shopping, desligo.

Logo à direita do cavalo.
Menos de cinco minutos depois ele me liga de volta. Chegou de helicóptero no escritório ou foi só um esquema para pegar meu telefone? Certo, conversamos. Pergunta novamente se já trabalhei na área, afirmo que não, que somente tirei algumas fotos há anos e que elas não refletem mais a realidade. Pra quê  Ele insistiu, por mais suavemente que tenha sido, em saber de quando eram as fotos. Bom, se eu fosse simplesmente mais jovem, as fotos provavelmente refletiriam a realidade atual até certo ponto. Registrariam potencial. Não é o caso. As fotos eram do Marcelo e não possuem mais qualquer relação com a atualidade. Explico a situação.

Estávamos marcando de nos encontrarmos hoje às 13:00. Ele afirma que sua agencia nunca trabalhou com transexuais antes e que acha mais interessante conversarmos fora. Ok. Suspeito novamente, claro, não sou idiota. Sendo no shopping, no entanto, em local publico, lhe concedo o beneficio da dúvida e concordo. De um certo ponto de vista, poderia fazer sentido.

Recebo uma ligação dele hoje mais cedo confirmando nosso encontro. Ele pergunta - de novo - se já trabalhei com isso. A colocação da pergunta é péssima, mas como eu estou acostumada às pessoas não saberem utilizar-se da linguagem apropriadamente para discutir com pessoas trans, novamente, lhe perdoo. O questionamento fica algo do tipo "você sendo trans, já trabalhou na área " Cara, qual a diferença que faz? Sério. Sob insistência, pergunto logo. "O que você quer saber, se eu sou prostituta?". Ele ri desajeitado e afirma "não, não" . Ahan. Falo um pouco de mim, buscando familiarizar-lhe com o assunto, e apresento meu blog quando ele me pede fotos para mostrar a uma moça de outra agência. Desligo e começo a me arrumar para sair.

Me maquio e me visto em 15 minutos, toda pronta pra sair, telefone toca novamente. O assunto em pauta agora é a curiosidade com relação a eu namorar uma menina. Minha paciência vai acabando, mas conheço sua extensão total, e é grande. Explico mais um pouco sobre identidade de gênero, orientação sexual, etc. Ele me indaga sobre fidelidade no relacionamento. Sobre abertura para homens. Finalmente, chega no ponto chave. "Se eu saísse com você, seria uma experiencia agradável?"

Primeiro da esquerda.
Bicho, você tem 60 anos. Sessenta. Anos. No mínimo. Sério? Sério mesmo? A pergunta como um todo, se eu tenho interesse por homens, é irrelevante. Tenho, é verdade. Nunca fiz nada, nunca sai com nenhum, mas tenho a curiosidade. O motivo pelo qual isso nunca aconteceu ganha mais um argumento à favor ao final deste texto, então prossigamos. "Mesmo que eu saísse com um rapaz, eu nunca misturaria o profissional com o sexual.". Obviamente, minha disposição para sair de casa já havia evaporado como lesma no sal. Ele não viu em mim uma possibilidade profissional, ele não queria conversar sobre modelagem. Ele queria me comer.

Prossigamos. Ele começa a falar sobre ser dono de uma rede de lojas para o público gay, Draco, e pergunta sobre a movimentação do meu blog para discutir sobre possibilidades de divulgação de seus produtos aqui. Falo a verdade, média razoável de 500 a 600 visitas por dia atualmente. Ele começa a falar que, tendo eu a cabeça de menino no corpo de uma menina (oi?), conversaríamos hoje então sobre essa questão comercial. Que ele falaria para seus sócios que alguém lhe contou sobre meu blog e ele ficou interessado comercialmente, ao invés de afirmar que me conehceu no shopping. Claro, senão eles saberiam que a principio você queria meu rabo, né? Enfim. Pergunto, no último suspiro ensanguentado da Senhora Esperança, se o desligamento do sexo com o trabalho tornava inviável o encaminhamento profissional na área de modelagem. "Olha, fica muito complicado."

...

Eu tenho infinita pena de quem precisa se submeter à convivência com uma pessoa dessas para se sustentar, total desrespeito por quem o faz por opção pela "vida fácil" e um asco indescritível a pessoas como esta que precluem o paralelismo de modelagem e caráter. Uma pessoa que está acostumada a ficar chamando menininha pro motel com promessas de riqueza e fama? Porquê, filho, não possui nenhum atrativo físico ou psicológico para se aproximar de qualquer tipo de mulher no mundo? Chegou a afirmar durante a conversa que achou que eu poderia fazer sucesso por ser "uma mulher bonita... enfim, uma mulher gostosa...". GOSTOSA, MERMÃO? Vai pro inferno. Tu nem sabes o gosto de uma mulher de verdade.

Fazendo uma rápida pesquisa no Google encontra-se o nome Evandro Ballesteros em sites de leilão de sêmen de cavalo, um endereço na Praia de Ipanema e a fundação da rede Toulon de moda. Ele chegou a dizer na conversa de telefone que para conhecê-lo bastava pesquisar seu nome no Google, ou seja, ele queria que eu soubesse de sua situação financeira. Afinal, era a única forma de uma mulher como eu pensar em tê-lo na cama, certo?

Errado. Não há formas. Nenhuma. Zero. Nulo. Null. Zéro. μηδέν. ゼロ.

Que nojo. Fiquem avisadas. Se ele abordar qualquer uma de vocês, o pré-requisito para a contratação é conhecimento anal, não profissional nem mental. E se você, senhor Evandro, visitar meu blog novamente e desgostar de eu publicar sua falta de caráter, bicho...


Estava na hora mesmo de começar a fazer alguns inimigos. Tem gente demais gostando de mim já.

4 comentários :

  1. Nossa, que absurdo, hein.

    Nem sei o que falar, mas gostei da forma como você lidou - e muito bem - com esta situação.

    Sei lá, é isto.

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  2. ....ke situação embarçosa.
    Quer saber de uma coisa:
    Existem duas coisas que
    vc não deve baixar nunca:
    a cabeça e o dedo do meio.
    Funciona sempre.

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  3. Fiquei com tanta raiva que estou sem palavras para expressar o quanto eu espancaria uma criatura dessa, desrespeitosa, imbecil, imoral, que acha sinceramente que pode ter quem quiser pelo poder do dinheiro. E me revolto ainda mais, imaginando que terão meninas, meninos, trans, enfim, pessoas em geral, que se sujeitarão a se vender para conseguir uma merda de trabalho seja ela qual for.
    Sempre vale à pena estudar, fazer concursos públicos, esforçar-se nos talentos naturais e aperfeiçoa-los através de cursos, leituras...meter as caras mesmo, porque quando vamos à luta, chegamos lá! De cabeça erguida, e orgulho de não ter ido pela "lei do menor esforço".
    Cabra safado esse velhaco, e eu sinceramente, tiraria o coro dele na peixeira. Oxente!
    Parabéns por ter se saído tão bem May e estar aproveitando para deixar o recado aqui para que ele leia!

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  4. Sabe o que me deixou mais braba? Ele achou que por você, só por ser trans, iria fazer sexo por algusn trocados. Nada contra prostitutas (profissionais), mas, não é porque tu é trans que é uma.

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