28 de outubro de 2012

Brasilismo

Ao andar pelo centro da cidade, um militar, um soldado fardado, com um grupo de colegas, grita "caralho" enquanto olha, um segundo após ter cutucado seu colega para observar junto. Ao entrar em um prédio executivo, um pergunta audaciosa de "onde você esta indo", originada sem dúvida da indumentária de academia. Ao subir em um ônibus, um onomatopeico "psiu psiu" vindo do fundo. Ao pedir o dinheiro de volta em um cinema, que comete o absurdo de exibir um filme de horrenda qualidade audiovisual, uma total negação da devolução monetária escudada pela afirmativa de que o responsável pela devolução era o site onde o ingresso foi comprado.
Ao andar de metro, uma horda de suínos favelados a gritar e rir e berrar e pular. Ao combinar de almoçar com uma menina que afirmava querer me conhecer, após planejar pensativamente o passeio para apresentá-la a um ponto turístico carioca, uma hora de espera para ser agraciada com sua divina presença, sem pedido de desculpas. E uma despedida apressada após uma estada curta devido ao horário de um próximo compromisso. Ao andar com a namorada de mãos dadas na rua, um sussurro quase indistinguível. "Comia as duas."

Esse é o nosso Brasil. Majoritariamente machista, continuamente estuprador da moral e do equilíbrio mental, absolutamente deplorável, indubitavelmente perdido. O Brasil não é o país do futuro. O Brasil nunca - nunca vai ser civilizado. Nunca.

Até o que temos de mais rico é o que temos de mais pobre. Garota de Ipanema. Amélia. Alto da Compadecida. Nossa cultura audiovisual é fundada na imbecilidade masculina e na opressão governamental. Nosso povo cultua sua desgraça como se fosse um mérito de ser brasileiro, um "ossos do ofício". A mesma situação se repete quando, por exemplo, uma mulher transsexual, auto-intitulada travesti, afirma que, se uma outra não exerce a prostituição e não se sente atraída sexualmente por homens, é "um viado de peitos".

O Brasil como unidade governamental, como identidade cultural, é uma doença. Uma praga. E tem que morrer.

11 comentários :

  1. Sem muitos comentários, mas o Brasil nunca dará certo mesmo. E não poderia ser diferente com esta merda de povo que temos. Ora, ninguém se mexe para nada a não ser para Carnaval e Futebol mesmo.

    Indo além desta sua última postagem, conheci o seu "blog" há umas 02 semanas atrás e, desde então, li uma grande parte dele.

    Na maioria das vezes, concordo com o que a dona do "blog" escreve e admiro a sua coragem para mudar de vida. Falando a verdade, tenho até uma certa inveja. Mas, nada tão maligno.

    Enfim, gosto de ler o seu "blog" e, ao longo desta leitura, me sinto menos sozinha e menos isolada do mundo.

    Parabéns pela sua coragem, Mayra.

    ResponderExcluir
  2. Metade do propósito do meu blog é fornecer informação e esperança para outras meninas que desejam efetuar a transição. Se houver alguma coisa que eu possa lhe ajudar, entre em contato comigo. Não terei problemas em conversar :)

    ResponderExcluir
  3. Ah, eu gosto das 02 metades do propósito, sabia. Tanto a parte da informação quanto a parte do dia a dia também.

    Quanto ao dia a dia, acho que é porque a gente enxerga ser possível uma vida normal que qualquer pessoa pode ter e independentemente destas escolhas. Ou, ao menos, a escolha de ter coragem e ir adiante.

    Acho que já li até mesmo aqui sobre ser "gay" não ser uma escolha e sim algo que se é e pronto. Gay no sentido mais amplo; todos os rótulos. Eu acho isto também. Mas, mesmo que fosse uma escolha, isto não iria mudar em nada o fato de que as pessoas têm que aceitar isto da mesma forma.

    E, apesar de estar me referindo à mim mesma no feminino, de feminino só tenho este meu nome e mais nada. Nunca fui muito adiante nisto e vou vivendo a minha vidinha.

    Mas fica aqui a minha admiração por ti.

    ResponderExcluir
  4. Na verdade eu estava justamente argumentando que a sexualidade é uma construção psicológica contínua. Mas, como você disse, isso não faz diferença na obrigatoriedade do respeito.

    O nome e a alma, esse segundo sendo o aspecto mais importante para a definição da identidade humana, não esqueça disso. :)

    Beijinhos, e ãbrigada.

    ResponderExcluir
  5. Não entendo muito disto. Sei que tem algo como: identidade de gênero x sexualidade. E muita gente confunde. Inclusive, muitos dos que estão no meio destes conflitos.

    Sim, não esquecerei, pode deixar.

    Obrigada pelo papo. É bom papear com quem saiba o que somos além do nosso nome (o oficial; risos). De mim, só quem sabe é uma trans colega minha, mas têm poucos meses e ela é super ocupada.

    Beijinhos e beijinhos.

    ResponderExcluir
  6. Olá Mayra, sou trans e comecei meu processo ha 9 meses. Graças ao (des)respeito de uma porção separatista que se auto-intitula culta, me senti obrigada a mudar de cidade, sai de Blumenau/SC com destino a Curitiba/PR. Aqui sou mais uma na multidão e estou feliz assim, lá era a trans, o viadinho, etc...
    O que é mais triste nisto tudo é que temos uma cultura engarrafada, basta passar no supermercado e pegar sua latinha bem gelada, ah e não esqueça de levar umas rosquinhas, é bem americano! Que cultura tem um país onde basta vestir-se com 20cm de tecido e ir rebolar na frente de uma câmera para virar celebridade, um país onde 5 palavras formam o maior fenômeno musical de todos os tempos, um país onde o mais importante é a aparência e não o caráter. Não me envergonho de ser brasileira, me envergonho é do fato da necessidade da criação de leis para nos garantir os direitos que a constituição nos reservou em 88, ser espancada pelo simples fato de ser eu mesma e ser discriminada por uma sociedade vulgar.
    Parabéns pelo blog, bjinhos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sabe qual o meu maior medo? Que essa cultura que tanto abominamos seja global. Que o ser humano seja intrinsecamente - ou pelo menos majoritariamente - ruim.

      Eu tenho a esperança de um dia encontrar um lugar verdadeiramente civilizado. O Canada, a Suécia, a Islandia... mas eu tenho muito medo de ir para todos os cantos do mundo e resolver que a luz no fim do tunel, que o caminho para a felicidade, é o voo de uma janela. Espero que nao.

      Brigada, menina. Beijinhos =)

      Excluir
  7. Nossa, fiquei abismada em saber desta coisa toda acontecendo no interior do sul do Brasil e, sobretudo, por ser o lugar menos atrasado em relação ao resto do país. Isto é grupo neo-nazista isto sim.

    Sinceramente, fiquei sem saber o que falar sobre isto. Tamanho o absurdo da situação.

    E o pior que este tipo de coisa (os grupos neo-nazistas) não é algo tão incomum assim em países como o Canadá e os nórdicos. Em geral, o pessoal lá é mais tolerante, mas, por outro lado, têm uma minoria que é completamente o oposto da tolerância com que eles são caracterizados.

    Quanto à nossa porcaria de país, isto aqui não vai para a frente nunca. Parece que pegamos tudo de pior de cada canto do planeta e reunimos aqui nesta terra rica com um povo tão pacífico. Pacífico até demais.

    Ah, nem gosto de falar da "merda" do nosso país. Fico muito irritada só de pensar. Por aqui, tudo acontece ao contrário do que deveria ser. Ao contrário do certo. Até a esquerda é de direita, se formos falar de política.

    ResponderExcluir
  8. Eu sei também que há um hábito de demonizar exageradamente nosso país. Nações sul-africanas e algumas asiáticas com certeza são muito piores, então comparativamente não somos tão abissais. O problema é que eu sou exigente :p

    ResponderExcluir
  9. Valeu Mayra, o seu desabafo é valido e plenamente justificado. Não há como negar a significativa contribuição da cultura brasileira no gigantesco atraso social do nosso país. Mas não devemos culpar o funk, o pagode, a mulher pomar, o vale-tudo ou o famoso "jeitinho" brasileiro, alguns dos abomináveis ícones maiores dessa massa, brasileira e falida. A idolatria a esses símbolos é tão somente resultado da miséria social, familiar e educacional que assola o Brasil, turbinada pelo patente complexo de inferioridade do nosso povo. Nosso problema não é o que gostamos, mas sim como gostamos... é uma questão de atitude. Sob a falsa epígrafe de povo simpático, generoso e acolhedor, encontra-se na verdade um povo individualista e egocêntrico ao extremo. Um povo que confunde gentileza com submissão, educação com viadice, que não respeita o alheio pois é o alheio quem deve submeter-se ao seu id complexado. Um povo que, em sua fragilidade espiritual, sofre da necessidade de estar sempre mostrando-se melhor do que é, melhor que o cara ao lado. Um dia iremos evoluir ? Não sei, mas se isso acontecer, acho que nenhum de nós estará vivo para assistir. É uma pena...

    ResponderExcluir
  10. Não vejo dessa forma... Claro que eu nem posso imaginar o assédio que mulheres, transexuais ou não, sofrem diariamente. A mesma coisa para outros grupos e camadas da população. Mas acho que você generalizou ao retratar o Brasil dessa forma, principalmente ao desprezar a cultura bastante rica que possuímos. Não podemos pegar os aspectos negativos de uma sociedade e condená-la por completa por causa disso, negligenciando todo o resto.

    Deve ser muito revoltante e frustrante, ainda assim, acho que é possível que as coisas mudem, mesmo que bem aos pouquinhos.

    ResponderExcluir