15 de junho de 2012

Epitáfio da Sinceridade

Coragem é um conceito base para a sinceridade. É o principal remédio contra o preconceito. E o preconceito é o principal assassino da sinceridade. Nesse momento, morro.

Eu explico. A sinceridade, em seu sentido mais amplo, considero como a capacidade de revelar tudo a todos. E a maior prova de sinceridade é falar dos assuntos íntimos mais pessoais para as pessoas mais distantes. Meu blog tem esse preceito. Quem o frequenta, disso sabe. Meus e-mails carregam essa bandeira. Meu perfil no Facebook é pintado com essas cores. Mas era, não é. Hoje, enterro minha sinceridade. E esse texto é seu epitáfio.

Forças ocultas conspiram contra mim. Informações públicas são portas abertas para minha alma, mas há aqueles que as penetram com intenções vis sob vestimentas honrosas. O ditado em português diz que de boas intenções o inferno está cheio. Eu prefiro o ditado em inglês, onde afirma-se que a estrada para o inferno é construída com boas intenções.

Sou forte. Ao ponto do egocentrismo. Nunca me importei com a opinião alheia. Isso não quer dizer que não buscava aprovação ou desejo de terceiros, mas em última instância, vestia minhas dores como uma armadura e me tornava impermeável a ataques baseados nela. Afinal, como alguém pode lhe ofender com o rótulo de gay quando gritas ao mundo que é atraída por homens? Como podem lhe ferir ao chamar de travesti quando você mesma se caracteriza sob essa classificação?

O problema – ou melhor, a questão – é que o meu conhecimento, e as influências sobre minha vida, aumentaram. Exponencialmente. Meu circulo interno, intimo, inflou. Eu devo protegê-lo, e ele é formado de pessoas mais vulneráveis do que eu. Para além do meu dever de me dar aos outros, às massas, há o dever de proteger aquilo que me é mais precioso. Para tanto, meus lábios se fecham para que meus braços possam abrir-se. Não só para todos, mas para os próprios íntimos. As pessoas que me cercam ferem-se mutuamente, e são feridas por terceiros. Além de um muro para o exterior, tenho que construir paredes e dividir meu lar em cômodos.

Coragem, além da capacidade de enfrentar o mundo apesar de seus medos, é saber quando se retirar da batalha nos campos estrangeiros para defender sua própria morada. Coragem é arriscar tudo sem constatação de sua própria segurança, mas saber quando parar de arriscar pela segurança de outrem. Por isso, hoje, deixo de ser uma encruzilhada, onde passam todas as estradas livremente, para me tornar Constantinopla. Localizo-me no centro, onde viajantes de diferentes civilizações passam, onde sotaques de diferentes idiomas são ouvidos, onde aqueles buscando uma base forte podem se fixar permanentemente, ou carregados de um prazo de validade, mas ainda assim, revestida por muralhas em seu perímetro e dentro de suas próprias tripas. Mesmo desta forma, não possuo mais forças para suportar todo tipo de violência. Não sou mais o cofre inviolável que um dia me caracterizou. Então peço, a quem quer que esteja do outro lado do mundo perceptível facilmente pelos primeiros cinco sentidos que possa me ouvir: não permita que meus inimigos inventem a pólvora.

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